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Mostrando postagens de dezembro, 2017
Quebrar o quinto metatarso, romper os ligamentos e até as enxaquecas da madrugada não foram comparáveis com o período do pós-operatório. Osso, pele, carne e nervo precisamente cortados. Nos primeiros dias a dor me trazia imagens dos feridos de guerra dos filmes, aqueles coadjuvantes que ficam gritando na maca suja com a falta de um membro. O fundo da cena se acendeu em mim. Eu era a coadjuvante e meu grito não me fazia me sentir mais viva. Conviver com a dor. Dor constante, por horas, dias, semanas, meses. Isso me roubou de eu mesma. A vontade de comer, saber o que eu gosto, me concentrar em qualquer ideia ou atividade. Nem corpo nem mente estavam em mim. A dor me tirou tudo isso. A dor levou alguns quilos que me compõem embora. Eu fui com eles. Foram necessários mais de dois meses até eu conseguir me ver de novo. Sentir o sangue correndo em minhas veias. E em cada respiração uma pequena parte se preenchendo. Me percebi no desejo acordado de ler o mundo.